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UM ITEM IMPORTANTE DE NOSSO AUTOCONHECIMENTO: NOSSA SEXUALIDADE

Não seria necessário alguém como Sigmund Freud escrever que a primeira coisa que se distingue numa pessoa é seu sexo. Qualquer um, antes de uma criança nascer, já tem a curiosidade (o mínimo a se dizer) sobre se ela será menino ou menina. Obviamente, a sexualidade não é a definição do órgão sexual que uma pessoa ostentará, mas a complexidade de desdobramentos entre  ter preferência por um relacionamento adulto com alguém do mesmo sexo ou de sexo oposto.

Para Alfred Kinsey, os seres humanos não se classificam quanto à sexualidade em apenas duas categorias (exclusivamente heterossexual e exclusivamente homossexual), mas apresentam diferentes graus de uma ou outra característica extrema. Em resumo, seriam divididos nas seguintes categorias: heterossexual exclusivo; heterossexual ocasionalmente homossexual; heterossexual mais do que ocasionalmente homossexual; igualmente heterossexual e homossexual, também chamado de bissexual; homossexual mais do que ocasionalmente heterossexual; homossexual ocasionalmente heterossexual; homossexual exclusivo; indiferente sexualmente.

É difícil também ampliar as complexidades para além dessa classificação, que se assemelha a de um animal quanto a um critério que se defina para analisá-lo. Poderíamos pensar em algum tipo de conformação da sexualidade vista sob outro critério, que poderia ser tido como uma manifestação anormal da sexualidade (conforme se pretenda analisar), tal como ocorre com sadomasoquistas, pedófilos ou fetichistas. Também a caracterização de alguém como indiferente sexualmente poderia ser acompanhada de uma divisão entre quem optou espontaneamente por isso e quem foi obrigado por convicções de natureza religiosa, por exemplo.

Isso tem a ver com o autoconhecimento? Fundamentalmente, sim, porque cabe a cada um tentar perceber desde cedo o que está mais próximo de suas preferências com relação à sexualidade, já que é uma das forças vitais para espécies sexuais como é o caso do ser humano.

Descobrir-se e aceitar-se sexualmente é um dos caminhos da felicidade. O autoconhecimento deve servir à felicidade ou para nada mais servirá. Quem sabe o que procura quando se vê diante de outro ser humano – aceitação total, rejeição parcial, rejeição total –, quanto à sexualidade, tem já um direcionamento rumo a conhecer-se.

Não importa aqui determinar se a sexualidade é fruto de hereditariedade, condição hormonal, condicionamento do ambiente, pois, qualquer que seja a origem, o que importa é saber como conviver com a orientação que se estabelece na pessoa e se ela consegue administrar junto às pessoas com quem convive as situações decorrentes dos comportamentos que manifesta.

Não é possível dizer antecipadamente a uma pessoa como ela se comporta sexualmente sem que ela mesma admita para si mesma a sua condição real diante da sexualidade. Nem é necessário que a pessoa manifeste a sua – digamos – tendência para que ela possa ser caracterizada em um dos tipos definidos por Kinsey. Digamos que alguém nunca tenha tido um relacionamento homossexual, desde o início de sua prática sexual até sua morte, mas possa ter tido interesse grande nisso e por algum motivo não tenha jamais praticado sexo com alguém do mesmo sexo, isso não significa que ele possa ser visto como alguém exclusivamente heterossexual ou indiferente ao sexo (por ter se recusado a ter qualquer relacionamento na vida, por exemplo, já que não manifestou outro interesse que não o homossexual e não pôde, por alguma dificuldade no seu meio social, manifestá-lo em vida). Essa condição de repressão da real condição sexual ou de não manifestação não necessariamente precisa ser exposta socialmente, mas ela deve fazer parte do autoconhecimento, daquilo que a pessoa, somente ela, pode vir a querer saber de si mesma.

Também pode ocorrer de alguém ter sido forçado a algum relacionamento homossexual, mas não ter tido mais interesse em ter contatos com pessoas do mesmo sexo, após conseguir romper com a situação que o forçou a esse tipo de contato. Isso não significaria que a pessoa seria ocasionalmente homossexual. É preciso saber identificar muito bem o que se é. Revoltas e dramas decorrentes de situações forçadas devem ser delicadamente analisados e compreendidos pela pessoa a fim de que ela evite tormentos e atitudes que destruam aos outros e a si mesma. Há um caso de uma mulher que se transformou numa assassina em série após ter sido espancada e estuprada por um homem. Ela começou a manifestar interesse por relacionamento sexual com mulheres, depois começou a perseguir e a assassinar homens como forma de vingança pelo sofrimento que obteve deles. O pior aconteceu quando a própria companheira, presa pela polícia, entregou a amante num acordo para obter sua própria liberdade, e, no julgamento dos vários assassinatos, a própria assassina pediu sua condenação à morte por afirmar convictamente que, se continuasse viva e tivesse a oportunidade de matar, ela mataria novamente.

Tal nível de perturbação foi apenas ampliado porque a assassina já tinha sofrido abusos de familiares quando criança.

O autoconhecimento da sexualidade, não apenas como tipo, mas na conformação atual a partir de eventos do passado e até situações presentes bastante vivas no dia a dia, é uma condição importantíssima para que haja opções de vida direcionadas à felicidade e ao prazer, que são objetivos da vivência sexual plena. Matar, destruir, sofrer imensamente, sem compartilhar prazer, não é sexualidade, é demência.

O verdadeiro autoconhecimento é libertador, não é apenas um detalhe técnico a ser classificado. Daí ser necessário partir de algum critério, mas não se aprisionar ferrenhamente a ele, ao menos na primeira conformação. O importante é saber como nos situamos com relação à complexidade de variáveis decorrentes de cada item de uma classificação e tentarmos encontrar caminhos de felicidade possível e harmonia com o mundo, a fim de que não nos transformemos em monstros nem em vítimas da realidade.

Daí é importante dizer que, tanto na sexualidade quanto em qualquer outro aspecto da vida, o que interessa é promovermos um autoconhecimento dinâmico, prático e voltado para nossa autopreservação  que também respeite a dignidade e efetiva qualidade de vida dos grupos que frequentamos. Se, em nossa sexualidade, houver deterioração da felicidade, temos que rever nossas posturas e buscar alterar nossos recursos para lidar com nossa sexualidade, a fim de que não nos transformemos em verdadeiras pragas emocionais contra o mundo e contra nós mesmos.

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Claudionor Ritondale

Claudionor Aparecido Ritondale, nascido em São Paulo, em 1957. Casado, pai de uma filha, amigo de cães, apreciador de vinhos. Mestre em Língua Portuguesa, com sólidos conhecimentos em Português e na área da Educação. Escritor premiado, com 41 livros editados e vários artigos sobre vários assuntos – poesia, contos, língua portuguesa, filosofia, viagens, crítica literária e de artes, administração. Revisor de textos, professor de Metodologia do Trabalho Científico. Faz palestras, ministra cursos e participa de videoconferências sobre o novo acordo ortográfico, ministra cursos de língua portuguesa pela internet. Autor de apostilas de Filosofia, Sociologia, Língua Portuguesa, Redação, Interpretação de Texto e Literatura para o ENEM. Tradutor de italiano, inglês, espanhol, francês e alemão, para particulares, empresas e editoras (textos técnicos e literários). Aposentado de um banco estatal, com experiência em programas de Treinamento e Desenvolvimento e universidade corporativa. Copyright © 2012 Claudionor Ritondale

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