A fórmula “meu nome é…” lembra certo político caricato e conservador, que nos fulminava com ela mais seu nome, o qual não declino para não associá-lo a mim, que não me pretendo conservador nem caricato. Outra fórmula, desbancada por um escritor, é a “eu me chamo” – alegava uma de suas personagens que não se chamava, os outros a chamavam de seu nome. Sem consagradas fórmulas, fico com o fato de que Claudionor Aparecido Ritondale não é nome simples de encontrar.
Claudionor surgiu por ser eu gêmeo e meu pai apreciar uma atriz chamada Claudete, nome dado a minha irmã (a semelhança nas letras iniciais gerou meu nome).
Seria ele a fusão entre Cláudio e Eleonor ou entre Cláudio e a palavra latina “honor”? Significados? Cláudio é manco (que claudica). Eleonor, do árabe, significa “Meu Deus é luz”; no galês, “luz”. “Honor” é “honra”. Presto honras a um manco? Sou manco honrado? Coxo iluminado por Deus? Luz a um coxo?
Aparecido é quem veio ao mundo, quem nasceu, quem apareceu. Ritondale, do italiano, significa “asas redondas”.
Conclusão tendenciosa: nascido com asas redondas para iluminar necessitados.
Aceito-o? Nem sempre. Como é inevitável ter um nome dado pelos pais, utilizo-o e pronto.
Estranho o fato de que muitos paulistanos são descendentes de italianos, mas não sabem pronunciar meu sobrenome, e eu vivo a soletrá-lo, porque ninguém o entende direito, perguntam se há letras dobradas, coisas assim. Já me habituei com o esforço. Sinceramente, acho que Ritondale não seja um sobrenome difícil, só que eu não sou maioria nessa opinião.
Quanto a alguém apreciar meu primeiro nome ou não, isso me incomodou algumas vezes, mas já vi tanta gente sofrendo muito mais que eu, que nem me aborreço com o meu enorme e sofisticado nome, conformo-me com interpretações divergentes das pronúncias que eu esperaria ver, não me atormento com a maioria das variantes, evitando, assim, atualmente, os apelidos, os quais já tive muitos. Descobri que são tantos os jeitos de nos enxergarem, o nome é apenas um deles.
Tentei desvendar na Internet nomes de parentes possíveis. Tive algumas surpresas, porque sempre se espera por algo que traga alguma grandeza, algum relevo ao nome associado a nós. Conheci quem era bombeiro, quem era funcionário de estatal (como eu já fui), quem era médica, um jornalista e escritor (opa, já tem artista com o sobrenome!), um cineasta (que chique!), um magnata dono de confecção de lingerie e que é enfronhado em política (sei lá se isso é lá algo que eu esperaria citar), uma professora (também sou professor), além de alguns célebres bandidos que chegaram a ser assaltantes de bancos, assassinos perigosos e aterrorizaram as cidades onde passaram. Essa última informação matou um pouco meu narcisismo. Ritondales associados a crimes?
Bem, felizmente eu procuro fazer algo mais sensato do que ficar com a grave preocupação de zelar por um nome; quer dizer, zelar pelas letras que se pronunciam e escrevem. Ah, bom! Procuro preservar a dignidade, associando-a a ele. Ah, melhor assim!
Puxa, humanidade, eu não sabia que um nome era algo assim tão relevante! Há quem se mate por isso, eu apenas sou um sujeito que nem sei se conseguirei prolongar as asas redondas – que não sei bem para que servem, para dizer a verdade – durante muito tempo. Se já não me bastassem minhas preocupações com minha sobrevivência, será que terei que pensar na sobrevivência de um nome, após minha jornada completa? Acho que é melhor eu nem pensar nisso, ficar com apenas uma conclusão simples: se ter um nome significa ter uma identidade e ser alguém, acho que sou o que as pessoas acham de alguém que é alguém, ou seja, sou alguém. Isso parece um pouco com as estranhas conclusões da famosa boneca de pano que era personagem do Monteiro Lobato, a Emília. Mas, o que eu posso fazer? Queria falar de meu nome, então falei, agora o julgamento é com vocês, pessoas que comigo compõem a humanidade.
Um abraço a todos de quem sabe que não é comum, procurando ser incomum, mas com um jeito comum de sentir isso.