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Fazer um nome

O escritor, na acepção do termo, é o indivíduo que escreve. Para escrever literariamente, há de o escritor contar com o talento para a ficção, que é a criação de arte com a palavra escrita. Aprender a escrever é um longo aprendizado, porque, além do domínio do idioma – o que inclui até saber errar propositadamente nele –, é necessário encontrar um modo próprio de conceber seus escritos, com técnica haurida no que se lê, mas com originalidade, ou seja, algo que não se confunda com os escritos de nenhum outro escritor. Pode-se ver alguma influência, mas o importante é que o escritor seja visto como um criador, não como um copiador.

Talvez mais difícil do que escrever bem – consequentemente após aprender a fazer isso, porque, afinal, tudo se aprende – seja a arte de vender seus escritos.

Há quem diga que só vende quem tenha nome feito no mercado. Hoje, com a Internet, e possivelmente uma série infindável de blogs, não há como promover alguém com algum tipo de relevo sem contar o tal candidato a ter um nome que apareça na multidão com uma concorrência ao seu lado de uns cinco milhões de escritores que também acham que sabem bem o idioma e criam com originalidade.

Se alguém reconhecer sua capacidade de criar com engenho e arte, você venderá? Quem fará o reconhecimento? Quais serão os critérios?

Concursos literários podem ser um bom balizamento. Vencê-los pode ser sinal de qualidade, mas não há certeza alguma de que as vendas acompanharão os resultados positivos dos concursos. Então, o que vende?

Certamente os clássicos, que são os indicados nas… classes escolares. Sim, até a palavra “clássico”, segundo uma professora universitária que pesquisou o assunto para sua dissertação de mestrado, vem da palavra “classe”. Se os livros didáticos “carimbam” a fama de algum escritor, ele vende, porque milhões de estudantes vão repetir a ladainha de que aquele que virou ícone de uma escola ou linha estética literária é, sem dúvida, digno de leitura, então vamos comprar um livro dele.

Mas, e o texto? Nós queremos ler o nome do autor, então podemos ficar só com a capa e o título, mais nada. Para que precisamos de “o amor não nos dá trégua, / não esmorece em sua luta por nos vencer, / é desejo puro, incessante, / leva-nos sempre a combater”? Isso é apenas um texto, que pode ser de qualquer desconhecido, portanto, ainda não deve ser grande coisa. Porém, ao associarmos esse fragmento a um nome que foi divulgado no livro importante de um estudioso, na página central de uma coluna literária de um grande jornal e virou obrigatoriedade no vestibular, ah, ele passa a ser contemplado como obra-prima. Ou será que nem sempre é assim?

Alguém que, nos meios intelectuais, sejam bem visto pode dizer que o autor morreu, que não faz sentido dizer que alguém de quem se diga que é escritor consagrado escreveu isso ou aquilo. O público pensa assim?

As celebridades, afinal, existem ou não? Podem ser fugazes, como nos programas televisivos que esperam que alguns participantes acabem vendendo revistas de divulgação de coisas que ninguém compraria se não fossem associadas a alguma poderosa rede de televisão. Ou talvez elas sejam as necessárias formas de dizermos que lemos algo, quando se trata de literatura.

O que significa, então, divulgar-se? É estar nos meios de comunicação de massa? Como fazer para aparecer? Promover escândalos? Mas, será que nós não nos acostumamos com eventos mirabolantes de tal forma que já não causam tanto impacto? Qual é o livro do momento? O que importa ler? O que será de nosso gosto tão demarcado pelas concepções alheias? Será que ainda poderemos um dia dizer que gostamos de algo por ser aquele algo daquele jeito especial que nos tocou? Um texto poderá ter esse poder dissociado da fama do seu autor, de um nome celebrado por quem quer que seja, de alguém que tenha vencido um concurso importante ou seja destacado como autor do livro do ano?

Não somos medíocres, não, essa história de autoria é que deve estar meio encalacrada em nós de tal maneira, associada a alguma respeitabilidade, para não parecermos medíocres, que acabamos nos confundindo e até enveredando por não saber o que ler. Se é que lemos algo, tentemos lê-lo por nós! Resta saber onde nós estamos.

 

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Claudionor Ritondale

Claudionor Aparecido Ritondale, nascido em São Paulo, em 1957. Casado, pai de uma filha, amigo de cães, apreciador de vinhos. Mestre em Língua Portuguesa, com sólidos conhecimentos em Português e na área da Educação. Escritor premiado, com 41 livros editados e vários artigos sobre vários assuntos – poesia, contos, língua portuguesa, filosofia, viagens, crítica literária e de artes, administração. Revisor de textos, professor de Metodologia do Trabalho Científico. Faz palestras, ministra cursos e participa de videoconferências sobre o novo acordo ortográfico, ministra cursos de língua portuguesa pela internet. Autor de apostilas de Filosofia, Sociologia, Língua Portuguesa, Redação, Interpretação de Texto e Literatura para o ENEM. Tradutor de italiano, inglês, espanhol, francês e alemão, para particulares, empresas e editoras (textos técnicos e literários). Aposentado de um banco estatal, com experiência em programas de Treinamento e Desenvolvimento e universidade corporativa. Copyright © 2012 Claudionor Ritondale

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