Voltar

Eu que gosto de animais

É de imaginar alguém que diz que gosta muito de animais não saber quase nada sobre eles? Provavelmente a ideia de conhecer algo seja mais racional que emocional. Ocorre que, numa sociedade que preza muito o conhecimento, dificilmente escapa a quem tem vínculos emocionais o também prazer das descobertas proporcionadas pelo conhecimento.

Que sei eu de pavões? E patos? Gansos? Vi muitos coelhos, mas saberei alguma coisa que os possa distinguir de chinchilas? Sei algo de cavalos? Mesmo de cães, os animais de quem me aproximei mais em minha vida? De carneiros acho que sei pouquíssimo, assim como de vacas, bois e bezerros. Gatos não me animam, talvez porque eu aprecie mais os cães. De pássaros sei pouquíssimo.

Então, como posso dizer que gosto de animais?

Quantas espécies de animais será que existem? Talvez mais de 50 milhões.

Os vegetais calculam-se em mais de 500 mil espécies.

Ainda tratando de seres vivos , os que são descritos, em comparação com as estimativas máxima e conservadora de existência de espécies, podem ser vistos, quanto a seu número, de acordo com as classes de animais, conforme tabela abaixo (os vírus, apesar de não serem propriamente seres vivos, comparecem porque reproduzem-se nos seres vivos, como parasitas).

 

Tipo de ser vivo Número de espécies descritas Número máximo de espécies estimado Número conservador de espécies estimado
Vírus 5.000 500.000 500.000
Bactérias 4.000 3.000.000 400.000
Fungos 70.000 1.500.000 1.000.000
Algas 40.000 10.000.000 200.000
Plantas 250.000 500.000 300.00
Vertebrados 45.000 50.000 50.000
Nematoides 15.000 1.000.000 500.000
Moluscos 70.000 180.000 200.000
Crustáceos 40.000 150.000 150.000
Aracnídeos 75.000 1.000.000 750.000
Insetos 950.000 100.000.000 8.000.000

 

Os animais que foram citados até agora são todos vertebrados. Eles se constituem numa modesta minoria, se pensarmos nas estimativas conservadora e máxima de espécies. São apenas 50.000 espécies, das quais 45.000 são descritas. Falta pouquíssimo para que a ciência acredite conhecer a todos eles.

Aprecio vivos os vertebrados, nos quais incluo os peixes. Noto que golfinho, boto e baleia não são peixes. Embora eu me alimente às vezes de peixes, posso apreciá-los vivos.

Os vertebrados compreendem as lampreias, os peixes, os anfíbios, os répteis, as aves e os mamíferos. As lampreias são enquadradas por pouco entre os vertebrados, porque são desprovidas de mandíbulas e maxilas.

O que interessa verificar na história do gosto por animais é que, até nas campanhas para preservação de espécies, os animais considerados mais bonitos ou agradáveis a qualquer sentido (não apenas à visão) é que ganham a simpatia de biólogos. E os estudos acabam recaindo mais sobre eles. Pouco se comenta que 4 espécies de lampreias foram extintas e que há ameaça de extinção de vinte por cento dos morcegos. E estes últimos desaparecem em grande parte devido à ignorância dos benefícios que proporcionam à natureza – em palavras mais atuais, ao equilíbrio ecológico que desencadeiam. Eles realizam importantíssimo trabalho na polinização de plantas, na dispersão de sementes e na redução de pragas como insetos. Muitas lavouras deveriam agradecer aos morcegos, mas os donos das lavouras – os seres humanos – matam os morcegos e auxiliam muitíssimo a comprometer as safras.

Então, gostar de animais, ainda que apenas os vertebrados, pode incluir dar atenção ao papel que eles podem desempenhar na cadeia ecológica. Um excelente predador de insetos, que representa um importante elo para compreender a evolução dos primatas, é um tipo de lêmur , conhecido como aye-aye, que é comum em Madagáscar, mas está sendo dizimado por ser feio e constar das superstições dos nativos locais, que acreditam que ele traz mau agouro. Perderemos toda uma história genética de evolução por conta da ignorância. As campanhas para defender essa espécie não existem, mas existem a de preservação do urso polar, muito mais agradável aos olhos, ou a do panda, que nem está na lista dos dez animais mais próximos de extinção.

O que nos leva a amar e querer preservar animais mais lindos, os chamados familiarmente de “fofos” é o fato de trazerem enorme apelo visual. Na ciência, entretanto, deve vogar algo que diga mais respeito à condição de promoverem maior equilíbrio ecológico no planeta, não apenas de agradarem visualmente ao bicho homem.

Eu que queria falar de minha ignorância, acho que acabei, sem querer, tratando de alguns assuntos que convergem para ela. Em essência, quis dizer que, embora acredite que goste de animais, fixo-me, como muita gente no mundo, em animais mais “fofos”. Eu, definitivamente, tenho que acrescentar ao lado emocional, vendido pela divulgação massiva, algo mais científico, racional, voltado ao conhecimento, não à ignorância.

Falta a mídia descobrir isso também.

ABOUT AUTHOR

Claudionor Ritondale

Claudionor Aparecido Ritondale, nascido em São Paulo, em 1957. Casado, pai de uma filha, amigo de cães, apreciador de vinhos. Mestre em Língua Portuguesa, com sólidos conhecimentos em Português e na área da Educação. Escritor premiado, com 41 livros editados e vários artigos sobre vários assuntos – poesia, contos, língua portuguesa, filosofia, viagens, crítica literária e de artes, administração. Revisor de textos, professor de Metodologia do Trabalho Científico. Faz palestras, ministra cursos e participa de videoconferências sobre o novo acordo ortográfico, ministra cursos de língua portuguesa pela internet. Autor de apostilas de Filosofia, Sociologia, Língua Portuguesa, Redação, Interpretação de Texto e Literatura para o ENEM. Tradutor de italiano, inglês, espanhol, francês e alemão, para particulares, empresas e editoras (textos técnicos e literários). Aposentado de um banco estatal, com experiência em programas de Treinamento e Desenvolvimento e universidade corporativa. Copyright © 2012 Claudionor Ritondale

Comments are closed.