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CORTEJO DE NATAL (CONTO), de Helen Ward

CORTEJO DE NATAL

Helen Ward

Tradução do inglês por Claudionor Aparecido Ritondale

 

A noite está escura, e o ar está carregado com o silêncio, enquanto a neve cai densa e pousa mansamente sobre a terra. Uma aveludada cortina de flocos de neve mascara a lua e encobre um milhão de estrelas de vista. Nenhum som pode ser ouvido, e a floresta dorme em paz.

O encantamento é quebrado por um ligeiro farfalhar do Ratinho correndo de seu ninho de folhas. Ele olha em volta e fareja o ar, então foge depressa por sobre rochas e galhos, até que alcança o caminho da floresta. Pacientemente, ele se senta e aguarda, e um silêncio desce uma vez mais.

Ali perto, um galho se quebra, rompendo o silêncio, e as patas mansamente fofas do Coelho vêm pulando através da neve. Assim que ele passa, o Ratinho salta por detrás deles, e o Porco-espinho, que cuidadosamente mantém-se à distância. Eles seguem até alcançar uma clareira, aonde outra criatura da floresta veio a eles se reunir. O Réquino [1] possui um grande tambor grave e pouco a pouco bate nele para reunir os animais. Bum, bum, bum!

O Texugo toma um grande fôlego e sopra o seu dourado chifre através da noite convocando à reunião, atraindo ainda mais animais por todos os cantos da floresta.

Saindo da escuridão despenca uma figura em forma de estrela. A Íbis[2] precipita-se para capturá-la. Ela voa alto sobre a clareira até que os animais deem um alerta, então voa devagar para o leste, ilumina o caminho com a figura em forma de estrela presa firmemente em seu bico. Os animais seguem em procissão, abrindo um caminho através da neve. Os tambores marcam um ritmo fixo, e todos em volta deles fundem o som de flautas e apitos, gaitas e trompas, em mágica harmonia.

Ao deixarem a escuridão da floresta, uma vasta paisagem branca descortina-se diante deles. Mais além os campos em seu nevado cobertor, uma colina eleva-se até o céu. Ao atingirem o topo, envolto em nuvens, eles já conseguem avistar o difuso esboço de um palácio – a casa do Rei Leão, sempre comentada, mas raramente vista. Enquanto os animais param para admirar, as enevoadas nuvens se partem, raios de lua quebram a escuridão, e o céu está iluminado com um milhão de cintilantes estrelas.

Uma prateada luz cai sobre o palácio. A íbis uma vez mais alça vôo. Sua estrela brilha sempre mais luminosa enquanto guia o cortejo em direção ao sinuoso caminho que os levará até o morro.

O Réquino toca seu tambor, e o cortejo segue adiante triunfalmente, tremulando bandeiras e faixas enquanto eles caminham.

Os dourados portões do palácio resplandecem ao luar e abrem-se suavemente à aproximação dos animais.

O Elefante trombeteia à sua chegada, e os outros tocam seus instrumentos e marcham em celebração, em direção ao lugar onde o Rei Leão os aguarda para saudá-los. Eles alegremente lhe oferecem os presentes que trouxeram consigo, e ele ruge em agradecimento.

Esta noite é a prodigiosa noite em que todos os animais do reino se unem para prestar honras ao Rei Leão e desfrutar do banquete de Natal que ele lhes preparou. Enquanto eles se juntam a ele em celebração em volta de sua mesa, elevam seus copos e seus gritos de alegria ecoam por toda a terra:

– Viva o Rei Leão! E Feliz Natal para ele e para todos!

 

 

Todos os animais – reais, extintos ou fantásticos – que aparecem no Cortejo de Natalestão listados abaixo. Olhe atentamente, e vejas quantos consegue achar:

 

Tamanduá

Raposa do Ártico

Texugo

Coruja-das-torres[3]

Urso

Gaio Azul[4]

Pisco-chilreiro[5]

Camelo

Gato

Cuco

Cisne-novo[6]

Dragão

Elefante

Ema

Arminho[7]

Pássaro-azul-das-fadas[8]

Raposa

Girafa

Grifo[9]

Lebre

Ouriço

Garça

Hipopótamo

Cavalo

Íbis (ver nota 2, acima)

Jaguar

Coala

Leão

Lagosta

Macaco

Ratinho

Náutilo[10]

Numbela[11]

Nilgó[12]

Ocelote[13]

Ocapi[14]

Gambá

Órix[15]

Avestruz

Lontra

 

 

Búfago[16]

Periquito

Pavão

Urso Polar

Porco-espinho

Codorniz

Coelho

Réquino (ver nota 1, acima)

Rato

Panda Vermelho

Rena

Esquilo

Cisne

Anta

Tigre

Tucano

Turaco[17]

Unicórnio

Urubu

Javali Africano

Peixe-espada

Iaque[18]

 

 

Helen Ward pertence a uma família de artistas e ilustradores. Ela iniciou-se na Brighton School of Art na costa sul da Inglaterra, sob a direção de renomados ilustradores para crianças, tais como Draymond Briggs, Justin Todd e John Vernon Lord.

Ela tem escrito e ilustrado muitos livros para crianças. Seu amor pelos animais, combinado com uma muito bem embasada fascinação pela pintura pré-renascentista, fê-la conceber Um Cortejo de Natal, o qual também serviu de inspiração ao Livro das Horas, pintado pelos irmãos Limbourg par ao Duque de Berry. As pinturas foram executadas em aquarela no tradicional papel de aquarela feito de restos de algodão.

 

Desamarre as fitas deste suntuoso livro de presente e descubra numa tomada de fôlego uma tira de Natal. Inspirada por seu amor à arte pré-renascentista, a artista Helen Ward criou um brilhante cortejo para a festiva estação, povoado com uma miríade de animais pintados em intrincados e precisos detalhes.

Uma decoração ideal para o peitoril da janela de Natal ou adorno de entrada, este livro dobrável também serve como um almanaque de surpresas. As 25 janelas abertas escondem uma série de minúsculas surpresas sem conta, por debaixo delas, para coroar ainda mais a festa de Natal. Olhe por detrás da tira e você encontrará uma deliciosa história e uma lista de todos os animais para você procurá-los. Você consegue descobrir por que alguns destes animais possuem estrelas douradas?

Este é um livro ideal para jovens e velhos – um presente perfeito para ser revisitado ano após ano.

 

 

 

 

 

 

 

 

CORTEJO BRASILEIRO DE NATAL (um dos meus poucos poemas infantis) – baseado no conto “Cortejo de Natal”, de Helen Ward.

Claudionor Aparecido Ritondale

 

Os animais estão chegando

À bela festa de Natal,

Com o ratinho comandando

O lindo cortejo festival.

 

De ninhos e tocas vão saindo

E vão rumando em direção

Ao exuberante palacete

Do majestoso Rei Leão.

 

Um guaxinim puxando a marcha

Com seu tambor bom, bom, bom, bom,

Um tamanduá soprando forte

Em sua corneta um forte som.

 

A corujinha segue o urso

E o papagaio todo azul,

Já o camelo vem pomposo

Acompanhando o inhambu.

 

O hipopótamo está na água

Dando forte saudação

Para a raposa e a girafa,

Que acompanham a procissão.

 

Vêm o macaco e a ema,

O elefante e o gambá,

O javali, o tigre e o cisne,

Até a anta lá está.

Vão saindo um a um

Dos seus ninhos e das tocas,

Celebrando o Natal,

Com presentes e beijocas.

 

Um bezerro toca o sino

Da pequena capelinha:

Din, din, don, um bom Natal,

Já se acende uma estrelinha.

 

Um belo gato vem tocando

O seu flautim original,

E o tucano soa forte

Um violino magistral.

 

Na orquestrinha afinada

Pelo esquilo no oboé,

Soa um boi forte seu trombone

Reafirmando toda a fé…

 

Em um Natal iluminado,

Com o azul tingindo o céu,

De onde as renas vão trazendo

Um bem vermelho Panda Noel.

 

E, lá do meio de todos eles,

Surge um coala a cantar,

Logo uma lebre em contracanto

Faz o cavalo até saltar.

 

Enquanto isto uma garça

Tira o pavão para dançar,

O periquito e dona Íbis

Fazem então um outro par.

 

A dona lontra e o arminho,

A coelha e o jaguar,

A lagosta e o ouriço

Põem  o baile a esquentar.

 

O cãozinho surge, então,

Com um belo cartãozinho

E o entrega ao Leão

Para ler o recadinho:

 

“Todos tenham um Bom Natal!

Viva a nossa harmonia!

Reine paz e boa vontade

De eterna alegria!”.

 

Feliz Natal!

Feliz Natal!

 

(poema publicado no livro “Inconclusos Mitos”, publicação do Clube de Autores).

 

 


[1] Réquino: Animal carnívoro noturno americano, da família do urso, semelhante ao guaxinim, com cauda longa e espessa.

[2] Íbis: Ave pernalta, que se assemelha ao flamingo.

 

[3] Coruja-das-torres: espécie de coruja que se refugia à noite nas torres das igrejas, conhecida também como coruja-do-campo e coruja-das-igrejas.

[4] Gaio Azul: espécie de papagaio azul, muito tagarela.

[5] Pisco-chilreiro: pássaro barulhento que se alimenta de peixes.

[6] Cisne-novo: espécie e cisne de pequenas proporções.

[7] Arminho: mamífero de pele fina e alva no inverno, tem o pêlo muito macio como o de uma marmota.

[8] Pássaro-azul-das-fadas: animal fantástico com poderes encantatórios.

[9] Grifo: animal fabuloso, com cabeça de águia e garras de leão.

[10] Náutilo: molusco semelhante a um caramujo, que tem a concha dividida em muitos compartimentos.

[11] Numbela: pássaro americano, espécie de tordo.

[12] Nilgó: grande antílope da Índia.

[13] Ocelote: gato selvagem encontrado na América Central.

[14] Ocapi: mamífero proveniente do Congo, de pescoço comprido, de tipo intermediário entre a girafa e o antílope.

[15] Órix: espécie de antílope sul-africano, com patas e rosto molhados e o chifre pontudo e listrado.

[16] Búfago: espécie de pássaro bem pequeno que mantém uma relação de mutualismo com os bois, alimentando-se dos restos de carne aderentes à pele destes.

[17] Turaco: ave proveniente da África, notável por seu tamanho, plumagem brilhante e crista na forma de elmo.

[18] Iaque: espécie de búfalo do Tibete, com cauda de cavalo.

 

ABOUT AUTHOR

Claudionor Ritondale

Claudionor Aparecido Ritondale, nascido em São Paulo, em 1957. Casado, pai de uma filha, amigo de cães, apreciador de vinhos. Mestre em Língua Portuguesa, com sólidos conhecimentos em Português e na área da Educação. Escritor premiado, com 41 livros editados e vários artigos sobre vários assuntos – poesia, contos, língua portuguesa, filosofia, viagens, crítica literária e de artes, administração. Revisor de textos, professor de Metodologia do Trabalho Científico. Faz palestras, ministra cursos e participa de videoconferências sobre o novo acordo ortográfico, ministra cursos de língua portuguesa pela internet. Autor de apostilas de Filosofia, Sociologia, Língua Portuguesa, Redação, Interpretação de Texto e Literatura para o ENEM. Tradutor de italiano, inglês, espanhol, francês e alemão, para particulares, empresas e editoras (textos técnicos e literários). Aposentado de um banco estatal, com experiência em programas de Treinamento e Desenvolvimento e universidade corporativa. Copyright © 2012 Claudionor Ritondale

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