Por que necessitamos tanto de referências? Em literatura, será que alguém vai a uma estante de uma livraria e procura um desconhecido, com um título que não diga algo de especial e leia um texto?
O papel da divulgação talvez seja tão ou mais importante do que o da escrita. Será que eu não exagero?
O autor faz diferença, ou não teríamos uma quantidade bem maior de títulos dos nomes conhecidos. Alguns nomes podem significar muito mais e já identificar seu autor. Obviamente, quando o autor já tem fama por uma outra área e até o título de algum livro seu foi muito divulgado em qualquer mídia poderosa, pode haver até o afastamento do leitor. Um exemplo poderia ser o título “Marimbondos de…”. Bem, o autor não é visto como literato, embora escreva e faça parte da Academia Brasileira de Letras. O problema é que pode ter recebido a antipatia do leitor, influenciado pela mídia, a partir de sua trajetória extraliterária (digamos!). E isso não seria um pré-julgamento?
Voltando aos anônimos? O que importa, realmente, para o leitor: a utilidade do texto.
Sim? Acredito que não seja de espantar tanto uma constatação como a que agora faço, porque somos muito influenciados por propaganda. Quem disser que nome não vende mente. Quem disser que só busca qualidade pode estar à busca de fama e prestígio. Antes de ler um texto não se pode dizer se é bom ou não.
Já presenciei várias ocasiões em que um texto é apresentado sem que o que apresenta dê o nome do autor, também em muitos casos não se oferece sequer o título do texto. Antes de conhecer a autoria, verifiquei, na maioria dos casos, que o texto não era ao menos satisfatório. Depois de ter sido revelado o nome do autor, se famoso, o texto passa a ser visto com outros olhos. O contrário também ocorre: já vi quem visse um filme pelo tema e pela forma (por exemplo, uma comédia), ficasse bem impressionado e empolgado com o filme, mas perdesse muito do entusiasmo após um crítico de algum veículo de imprensa poderoso tecer comentários muito desfavoráveis ao filme.
O julgamento da obra de arte é algo de grande responsabilidade, especialmente porque é algo que parte do leitor para o próprio leitor. O assujeitamento a ideias que nos comandem, permitido por nós, é uma prova inequívoca de desvio de análise, de submissão cultural. Um jornalista conhecido escreveu certa feita sobre um nome muito conhecido da chamada música popular brasileira que não seria preciso nem ouvir uma próxima composição do tal nome muito conhecido porque, de antemão, já se poderia saber que era bom. Isso é puro preconceito!
Que tal, a partir de agora, buscar algo sem o nome e sem o título? Procurar conhecer, de verdade, sem antes perguntar ao balconista – da livraria, da locadora – ou ao ser por trás do nome famoso na crítica da mídia o nome ou a referência dessa ou daquela obra? Isso pode não fazer mal, constatem!